Nascido em 1911, em Lanús, província de Buenos Aires, Hector Júlio Paride Bernabó (Carybé), filho de mãe brasileira e pai italiano, adotou definitivamente o Brasil como morada, no final da década de 1940.
Residindo em Salvador, Bahia, Carybé estreitou seus laços com a cultura baiana, o que se refletiu em uma extensa produção composta por pinturas, esculturas, desenhos, gravuras que tanto representa o seu olhar a respeito daquele povo.
Já nos primeiros tempos de sua permanência em Salvador realizou uma serie de desenhos publicada em 1951, sob o título de Coleção Recôncavo (com uma segunda edição em 1955): dez cadernos temáticos tratando a respeito da vida em Salvador, que incluíam desenhos de Carybé e textos do próprio artista e de outros colaboradores como Pierre Verger, Wilson Rocha, Odorico Tavares, Carlos Eduardo e Vasconcelos Maia.
Em 1962, a Livraria Martins Editôra, de São Paulo, reuniu o conjunto de desenhos outrora publicado na Coleção Recôncavo em um volume único intitulado As Sete Portas da Bahia, com apresentação de José de Barros Martins e Jorge Amado, e textos do próprio Carybé, tornando-se uma das referências para outros trabalhos do artista.
Nesta comunicação apresentaremos como neste conjunto de desenhos presente na Coleção Recôncavo e, posteriormente reunido em As Sete Portas da Bahia, Carybé se coloca como cronista visual, artista e curador, construindo um recorte particular sobre o cotidiano do povo baiano. Nestas obras em que são apresentados trabalhadores, lugares, festas e manifestações religiosas, o artista revela, nas entrelinhas, a musicalidade dos soteropolitanos registrada sob a forma de danças, lutas, rezas e cantorias.