Luciane Viana Barros Páscoa
(Universidade do Estado do Amazonas; GT RIdIM-Brasil - AM)
Circulação iconográfica musical ultramarina: imagens de artistas em trânsito
no teatro musical em Belém e Manaus
Nos anos compreendidos entre 1850 a 1910, a Amazônia viveu seu auge econômico proporcionado pelo Ciclo da Borracha, que possibilitou vultosas arrecadações ao Amazonas e ao Pará. Ambos receberam enorme fluxo de estrangeiros e brasileiros de outras regiões e as capitais destes estados tiveram um rápido desenvolvimento urbano. Os ganhos culturais decorrentes deste crescimento econômico e social beneficiaram a população de Belém e Manaus, que se revelaram ávidas pelo teatro musical. Em meio a operetas e revistas, a ópera foi um gênero que envolveu maior sofisticação pela dimensão dos recursos envolvidos, pela associação de habilidades artísticas a serviço de sua realização e a pretensão em trazer artistas e mesmo companhias inteiras da Itália e da França, anualmente. Como consequência da difusão da música em Manaus e Belém, alguns músicos que haviam estudado no exterior decidiram seguir a carreira da composição e vieram escrever para o teatro lírico. Ao verificar a diversidade de manifestações culturais e artísticas nas cidades de Belém e Manaus durante o Ciclo da Borracha, observou-se a ausência de estudos referentes à iconografia e iconografia musical no que concerne à imagem dos artistas viajantes do teatro musical neste período. Tais estudos pretendem aprofundar o conhecimento sobre a estética visual presente na fotografia da segunda metade do século XIX. É de grande interesse o conjunto documental fotográfico, que mesmo disperso, reúne informações importantes sobre a vida musical, a estética e os elementos cênicos utilizados para os espetáculos da época. O interesse pelo documento fotográfico ampliou-se a partir da segunda metade do século XX, com a “dilatação do campo do documento” quando os historiadores passaram a considerar categorias variadas de testemunho. Pierre Francastel, sob influência da Escola dos Annales, argumentou que o documento artístico é ao mesmo tempo revelador de saberes técnicos e de esquemas de pensamento, e pode ser considerado tão seguro quanto um documento escrito. É sob tal viés que pretende-se pesquisar um conjunto fotográfico que reúne imagens de artistas viajantes em trânsito nas cidades de Manaus e Belém, oriundos de companhias artísticas de teatro musical. Almeja-se com isso, contribuir com informações históricas, artísticas e estéticas para a recomposição de um patrimônio cultural, partindo da premissa de Theodore Adorno de que não se trata de conservar o passado, mas de realizar a sua esperança.
Breve Biografia
Possui graduação em Artes Plásticas e em Música pela UNESP, mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1997) e doutorado em História Cultural pela Universidade do Porto (2006). É professora da Universidade do Estado do Amazonas, onde atua no Programa de Pós-Graduação em Letras e Artes, e no curso de Música, no qual ocupa as cadeiras de Estética e História da Arte e Filosofia da Arte. Ainda nesta instituição, realiza atividade de pesquisa no Laboratório de Musicologia e História Cultural, no qual coordena a área de projetos, dentre os quais se destacam patrocínios importantes junto a instituições de projeção nacional, como Petrobras, com o projeto Ópera na Amazônia no período da borracha (1850-1910). É líder do grupo de pesquisa Investigações sobre memória cultural em artes e literatura, do PPGLA da UEA. É autora do livro Artes Plásticas no Amazonas: o Clube da Madrugada, Editora Valer (2011) e do livro Álvaro Páscoa: o golpe fundo, Edua (2012). Colabora com a revista de arte contemporânea portuguesa Umbigo. Atua principalmente nos seguintes temas: história da arte, arte luso-brasileira, iconografia musical, iconografia da dança e do espetáculo, iconologia.
É
membro ativo do Grupo de Trabalho RIdIM-Brasil sediado em Manaus, AM.